ESPECIAL DIA DOS PROFESSORES – Educação une gerações separadas por quase seis décadas

Por: Bruno Rodrigues

Conheça a professora mais jovem e a aluna com mais idade da rede municipal de ensino de Sorocaba

 

Oito letras transformadoras e com o poder de aproximar gerações separadas por quase sessenta anos. Uma paixão capaz de unir uma quase adolescente com seus 22 anos, nascida em fevereiro de 1997 e uma senhora de 79 anos, nascida em abril de 1940: Educação. Uma dá os primeiros passos na carreira de professora da rede municipal de ensino, cheia de sonhos e com a vontade de colaborar para transformação do mundo. A outra, bem mais vivida, a partir das aulas acompanhadas com disciplina e determinação, revela seus sonhos e a vontade de transformar o seu próprio mundo.

Neste Dia do Professor – celebrado na terça-feira, 15 de Outubro – conheça um pouco da história de duas mulheres que têm, na Educação, um ponto em comum. Elas não se conhecem, mas, mesmo que com objetivos distintos, vêm na Educação o caminho para um mundo ou uma vida melhor.

Amanda Cristina de Souza Nunes é a professora mais jovem atuando na Prefeitura de Sorocaba e leciona na Escola Municipal “Irineu Leister”, no Jardim Ipiranga. Maria Eunice, de 79 anos, é a estudante com mais idade matriculada na rede de ensino. Ela é aluna da etapa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Municipal “Renice Seraphim”, no Residencial Carandá.

Amanda nasceu na era digital. Habituada com a modernidade, utiliza  ferramentas tecnológicas para ensinar e, certamente, para aprender também. “A tecnologia é uma grande aliada do processo educativo. Ela favorece a aprendizagem e o desenvolvimento da autonomia das crianças para buscar novas possibilidades e fazer diversas descobertas”, valoriza. Aos 22 anos, Amanda é formada em pedagogia e pós-graduada em alfabetização matemática.

Quando dona Maria Eunice nasceu, na distante Miranda, no Mato Grosso, em 1940, ainda seriam necessários mais dez anos para que a TV chegasse ao Brasil. Eram outros tempos. Os estudos foram deixados de lado e ela precisou  aprender a se virar sozinha desde cedo. Os anos passaram, mas a vontade de aprender a ler, escrever e, nas palavras dela, “ter autonomia”, não.

Orgulhosa e com um caderno impecável, a aluna Maria Eunice diz que sempre teve vontade de se alfabetizar “para não precisar pedir favor pra ninguém. E vim fazer a minha parte”, conta, referindo-se à procura pelo curso da EJA. “A escola ajuda a gente aprender a viver. Quem não estuda, não pode trabalhar nos dias de hoje”, ensina.

 Aluna nota 10

A dedicação da aluna Maria Eunice é reconhecida pela professora da EJA, Kalina Carolina Silva. “É uma aluna nota 10. Faça chuva, faça sol, ela vem caminhando de sua casa e não falta. Marca médico mais cedo para não perder aula. É a primeira a chegar na sala. Ela é um exemplo para todos nós’, conta a professora, com um orgulho no olhar.

Com um discreto sorriso no rosto, a quase octogenária aluna dá uma aula de disciplina: “A gente tem que escrever com cuidado. Escrever com amor. Prestar atenção. Não é para ficar falando, pois quem fica falando não aprende. Temos que aprender com vontade, tomar cuidado e não ficar faltando”.

Para a professora Amanda, os desafios são outros. A pouca idade, conta ela, gerou uma reação inicial de surpresa nos pais dos estudantes. “Eles estranharam um pouco, mas hoje entendem. Foi possível criar até uma relação de amizade”.

Este é o primeiro ano contato de Amanda com a sala de aula na posição de professora. “E essa experiência tem sido tão significativa para mim quanto para as crianças que me ensinam muito. Apesar de todas as dificuldades que enfrentamos, podemos superar cada uma quando fazemos o que acreditamos da melhor maneira possível”, conta. “Ser professora sendo tão jovem é uma experiência gratificante, divertida e de muito valor”, garante Amanda.

Lições de cada uma

Amanda e dona Maria Eunice têm receitas próprias para vencer dificuldades e driblar os obstáculos que surgem pelo caminho. “Deus prepara tudo e ajuda a gente a aprender”, diz dona Maria Eunice que tem seu esforço reconhecido pela professora Kalina que destaca a voracidade da aluna por aprender, sustentada em sua fé.

Os olhos da professora Amanda têm o brilho da juventude e miram o futuro, quando muitos Dias dos Professores terão sido incluídos no seu currículo profissional. “Aprender é uma questão de vivência e não de idade. Só deixamos de aprender se a morte chegar, mas enquanto houver algo que não sabemos, sempre há tempo de crescer em conhecimento”, ensina.

 

 

 

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